Ele me olhou e forçou um sorriso, eu realmente não esperava que seria ele
Giovanna: Você não tava em Noronha?
Neymar: Eu não iria conseguir passar a virada do ano longe de você... a gente precisa conversar Gi
Fiquei parada por alguns segundos, sem reação, depois dei passagem, ele entrou e fechei a porta.
Eu ainda estava com algumas lagrimas caindo, coração acelerado, gravidez no auge, cabeça confusa, mas quando ele sorriu de canto e encostou a testa na minha, eu soube que não tinha como ter outro fim pra esse dia.
O beijo veio em silêncio. Sem aviso. Só veio. Primeiro calmo, depois mais urgente, como se ele estivesse segurando aquilo há dias. A mão dele escorregou da minha bochecha pro meu pescoço, me puxando mais pra perto, ele começou a descer pra minha mandíbula, pro meu pescoço, eu só fechei os olhos e deixei, sentindo cada arrepio. O cheiro dele, o toque, tudo me puxava de volta. E por mais que eu ainda tivesse um restinho de raiva bemmm la no fundo e aquela foto aparecesse na minha memória como flash, naquele momento eu só conseguia sentir o quanto eu tava com saudade.
Neymar: Tô com tanta saudade de você -le falou, entre um beijo e outro.
Eu puxei ele de volta pra mais um beijo, que ele interrompeu e me olhou
Neymar: A gente tá bem? -ele sussurrou, me encarando-
Giovanna: A gente vai ficar se tu me devolver meu beijo, por favor.
Ele sorriu e atendeu na hora. As mãos dele deslizaram pela minha cintura, e ele me colocou no colo sem parar o beijo, quando a mão dele subiu pela minha blusa ouvimos o barulho da porta, olhei pra ele que revirou o olho e jogou a cabeça pra trás, eu ri e só foi o tempo de eu sair de cima dele e arrumar meu cabelo e o Gil entrou seguido pela Isa
31 de dezembro – 22h47
A casa estava exatamente como a gente tinha pensado quando soubemos que iriamos passar o Réveillon ali: luzes penduradas na área externa, a mesa com taças de cristal e arranjos de flores, e a a vista surreal do Rio de Janeiro pra completar. Isa tinha se superado na decoração.
Quando desci ela e o Gil tavam rindo juntos na cozinha externa, terminando de montar a mesa de frios como se fossem dois chefs de cozinha, eu ri, Gabi e Luan estavam sentados na cadeira do lado
Isa: Eu disse que a tábua precisava ser uva verde mô, a roxa destoou de tudo -eu ri-
Do nada eu senti um toquezinho, quase imperceptível, como uma bolha estourando por dentro, coloquei a mão na barriga, parei de respirar por um segundo.
23h50.
Ja estávamos todos ali no deck de madeira, de onde a vista era melhor. Lara tinha colocado a Malu pra dormir no quarto de hospedes, com ruído branco ligado e estava olhando pela babá eletrônica, Isa trouxe taças pra todo mundo, inclusive a minha versão sem álcool.
Junior me puxou pela cintura e me abraçou por trás
Neymar: Obrigado por me deixar estar aqui -ele falou, baixo, no meu ouvido- Eu te amo, vou fazer tudo diferente daqui pra frente.
Giovanna: Nós vamos fazer diferente juntos -ele sorriu-
Fogos. Fogos por toda a orla. Gritos, brindes, beijos, abraços.
Eu encostei minha cabeça no peito dele e respirei fundo. Ele me virou de leve e me beijou. Com calma, com carinho, o beijo durou até os fogos começarem a sumir no céu, ele passou a mão no meu rosto e encostou a testa na minha.
Neymar: Feliz ano novo, amor.
Giovanna: Feliz ano novo meu amor, novo mesmo -riu-
E naquele instante, eu fiz meu pedido de ano novo: que tudo desse certo, tudo tudo tudo mesmo.
3h00
Eu ja estava morta de cansada tal qual uma senhora pq tinha dormido muito mal nas noites anteriores, Gil e Isa conseguiram convencer a Gabi a ir com eles e Luan em uma festa, quando eles me chamaram eu neguei sem pensar kkkk só queria um banho e minha cama, então eles saíram os quatro pra essa festa, Lara e Liz ja estavam no nosso quarto de hospedes do andar de baixo faz tempo, e o Gu estava com o Junior guardando as comidas que sobraram la fora, então a casa tava silenciosa. Entrei no quarto e deixei a porta encostada, fui tomar um banho rapidinho, escovei o dente, lavei o rosto e estava passando meu cremes na frente do espelho ainda de toalha e o Junior chegou e me abraçou por trás
Neymar: To esperando desde mais cedo por esse momento aqui. -falou beijando meu pescoço-
Giovanna: Ah é? Achei que só eu estava esperando isso
Ele me puxou pra deitar no peito dele, passou a mão no meu cabelo devagar.
Neymar: Tá tudo bem aí dentro? -ele sussurrou, batendo a ponta do dedo na minha cabeça-
Giovanna: Acho que sim
Ele beijou o topo da minha cabeça
Neymar: Parece perdida em pensamentos
Giovanna: Você queria estar aqui agora?
Neymar: Claro Gigi, pq está perguntando isso?
Giovanna: Não sei, as vezes tenho medo de a gente deixar de ser a gente, há um tempo atras a gente tinha ido pra festa, ou melhor, eu teria ido e tu estaria em algum outro lugar com seus amigos chatos
Neymar: Sim, verdade, mas agora, falando de presente, não tem nenhum lugar que eu queira estar mais do que aqui
Eu virei o rosto devagar e encarei ele. A expressão era sincera, tranquilo.
8h40
Acordei com o sol já que tinha esquecido a cortina aberta no dia seguinte. Junior ainda estava dormindo, mas assim que eu me mexi ele abriu os olhos devagar
Neymar: Bom dia, Gigi
Giovanna: Bom dia, amor
Dei um selinho e levantei pra fazer xixi, a gravida, ela vive fazendo xixi, chorando e dormindo.
Aproveitei e lavei o rosto, escovei o dente, me troquei e esperei o Junior se arrumar pra gente descer pq ja estava ouvindo um chorinho la em baixo.
Quando chegamos na cozinha, Lara estava sentada na cadeira com a Liz no colo. Gu estava fazendo ovo, soube pelo cheiro que ja queria revirar meu estômago.
Giovanna: Oi, meu amor — falei, fazendo carinho na cabecinha dela.
Ela pareceu gostar do carinho pq ficou quietinha no meu colo.
Eu sentei com ela ali fora na área externa pra fugir do cheiro de ovo
Na manhã seguinte, assim que desci a Rafa chegou, Junior estava saindo pra reunião dele
Giovanna: Tô tentando, né amiga? Tem hora que parece que vai tudo desmoronar de novo.
Rafaella: Eu vi a foto...
Terapia
Dra. Helena: Oi, Gi. Bom dia.
Giovanna: Bom dia. -sorri- Desculpa o atraso, achei que você não fosse atender hoje.
Dra. Helena: Tudo bem. Semana que vem eu saio de férias, mas te aviso certinho os dias, tá?
Giovanna: Tá bom.
Dra. Helena: E como você tá se sentindo hoje? Como foram os últimos dias?
Giovanna: Ai... foi uma semana longa. Intensa. Emocionalmente exaustiva, sabe?
Dra. Helena: Imagino. Quer me contar o que aconteceu?
Giovanna: Eu acho que te falei que ia pra Floripa, né? Que tava meio tensa de ter que encontrar meus amigos.
Dra. Helena: Sim, lembro disso. E como foi?
Giovanna: Foi meio estranho... mas isso nem foi o pior. Na real, estar lá me fez sentir um desconforto novo, sempre amei Floripa, era meu lugar favorito, mas dessa vez... me senti meio deslocada. Mas eu queria deixar esse assunto pra outro dia, pode ser?
Dra. Helena: Claro. A gente volta nesse ponto quando você sentir que é hora. O que foi mais difícil, então?
Giovanna: O Junior. A gente tinha combinado que ele ia pra Floripa no aniversario meu irmão. Ele falou que queria estar lá. Eu fui antes, e no dia... ele sumiu. Não apareceu. Não respondia, celular desligado.
Dra. Helena: Você ficou sem saber onde ele estava?
Giovanna: É. Aí meu primo viu ele num story de um amigo em comum. Um story que não aparecia pra mim. Ou seja... fui bloqueada pelos amigos dele
Dra. Helena: Isso te fez sentir…?
Giovanna: Decepcionada e irritada, mas o pior nem foi isso. A festa era do namorado da irmã dele, uma festa cheia de bebida, mulher, meninas do OnlyFans... e o tal namorado, que já tem histórico de trair, traiu a irmã dele lá mesmo e saíram videos provando. E o Junior estava lá, no meio de tudo isso.
Dra. Helena: Parece que o impacto não foi só sobre o relacionamento de vocês, mas também sobre o que ele escolheu tolerar em relação à própria irmã.
Giovanna: Exatamente. Isso mexeu muito comigo, a gente sempre falou sobre esse cara ser um babaca. A irmã dele sofre pra caralho pelas coisas que ele faz. E mesmo assim ele tava lá, como se fosse normal.
Dra. Helena: E quando você descobriu, o que aconteceu entre vocês?
Giovanna: Ele me ligou, mas mentiu. Falou que tava num compromisso de trabalho. Eu desliguei. Disse que, quando ele quisesse falar a verdade, podia me ligar. Depois que voltei pra casa, ele apareceu, mas a gente não conseguiu conversar. Ele ainda insistia na mentira e eu fiquei muito irritada. E eu senti que minha irritação... irritava ele também.
Dra. Helena: Vocês não estavam conseguindo se encontrar no diálogo, né?
Giovanna: É. E no meio disso, a Liz nasceu. foi tudo meio que se atropelando, e ai ele decidiu viajar com os amigos. Eu fiquei em casa.
Dra. Helena: Vocês ainda não se falaram desde esse dia?
Giovanna: Já, ele voltou no dia 31, de surpresa, disse que queria passar a virada comigo. E aí a gente conversou. Ele finalmente me contou tudo. Pediu desculpa, disse que foi um erro, que não pensou e tal e me mostrou a foto, explicou tudo… e no fim a gente acabou se entendendo. Passamos o ano novo juntos, foi tudo… normal.
Dra. Helena: E como você se sentiu depois disso?
Giovanna: Confusa. Porque eu queria ele ali. Eu amo ele. E, de verdade, confio. Ele nunca me deu motivos graves pra não confiar. Mas essa foi a primeira vez que eu senti ciúmes de um jeito que me consumiu. A foto volta na minha cabeça toda hora.
Dra. Helena: A imagem te marcou tanto assim?
Giovanna: Muito. Ver aquelas mulheres… lindas, perfeitas em tocando nele, e ainda por cima a foto vazou. A internet caiu em cima. Comentários horríveis. Disseram que ele passou a virada com elas, que eu sou idiota, que ele só tá comigo por causa da gravidez.
Dra. Helena: Isso te tocou de uma forma diferente do que antes? Pq vc ja mencionou antes que tinha muitos comentários ruins, mas que conseguia ignorar na maioria das vezes
Giovanna: Sim. Desde o começo do nosso relacionamento eu escuto coisas ruins. Mas agora... não sei se é por causa da gravidez, ou porque vamos casar... eu me sinto mais vulnerável. Às vezes eu leio e penso: Será que só eu não tô vendo e eles estão certos? Quando eu me olho no espelho me pergunto: Será que eu sou suficiente?
Dra. Helena: Você se sente insegura?
Giovanna: Sim, as vezes sim, meu corpo mudou, minha cabeça mudou. Tem dias que eu me sinto linda, plena... mas tem outros que eu só queria desaparecer.
Dra. Helena: Gi... você tá vivendo uma mudança imensa. Seu corpo, sua vida, suas emoções. E além disso, tá lidando com uma relação exposta, julgada. É natural que você se sinta sobrecarregada.
Giovanna: Às vezes eu tenho medo. Medo de estar insistindo numa relação que não vai dar certo, mesmo amando tanto. Medo de estar me deixando de lado no processo.
Dra. Helena: Isso é novo, você sente que tem se colocado em segundo plano?
Giovanna: Eu não sei. Só sei que nos momentos em que eu me sinto mais insegura... eu só quero ele. Porque quando ele tá perto, tudo silencia. É como se o mundo parasse. E às vezes, tudo o que eu mais queria era isso: um pouco de paz dentro da minha cabeça.
Dra. Helena: Isso diz muito. Talvez o que te falta agora não seja só ele... mas um espaço interno de descanso, de acolhimento. Sem cobrança, sem pressão.
Giovanna: Mas como eu crio esse espaço se o mundo inteiro tá gritando?
Dra. Helena: Começando por filtrar o que entra. O que você lê, ouve, consome. Preservar esse momento, essa nova vida que você tá gerando e até o seu relacionamento. Talvez bloquear comentários, evitar ler DMs, limitar o que você compartilha... criar um ambiente mais seguro pra você mesma.
Giovanna: Mas é justo eu que tenha que fugir?
Dra. Helena: Não se trata de fugir. É sobre escolher onde você vai colocar sua energia. E com quem. Tem coisas que não precisam ser enfrentadas o tempo todo.
Giovanna: É... talvez eu precise mesmo disso. E me comunicar melhor como vc me fala em toda sessão -ela riu- Quando ele me ligou e mentiu, eu só desliguei. Falei “quando quiser contar a verdade, me liga”. Eu sei que eu deveria ter falado diferente, ja conversamos tanto sobre isso...
Dra. Helena: Como, por exemplo?
Giovanna: "Eu sei onde você estava mas eu quero ouvir de você. Não precisa mentir pra mim"
Dra. Helena: Muito bem. Porque aí você sai da defensiva e convida ao diálogo. Dá espaço pra escuta. Mesmo magoada.
Giovanna: É. Mas na hora eu tava tão cansada... e você me conhece, eu sempre faço as coisas do meu jeito.
Ela sorriu concordando
Giovanna: Ah, e tem mais uma coisa. Hoje a irmã dele soltou, sem querer, que ele talvez vá pra Arábia por causa do trabalho. Ele nem me falou nada ainda. Mas só de pensar... já me deu um aperto. Tipo… precisava ser agora?
Dra. Helena: Parece que tem sempre algo novo surgindo... algo que te escapa.
Giovanna: Exatamente. Como se nada estivesse sob meu controle. E eu odeio essa sensação.
Dra. Helena: Mas por enquanto... é só uma possibilidade, certo?
Giovanna: Sim.
Dra. Helena: Então talvez a gente possa tentar não sofrer por antecipação.
eu ri
Giovanna: É...
Dra. Helena: Gi, você tá tentando dar conta de muita coisa. E tentando controlar tudo, até o que é incontrolável. Talvez agora seja o momento de voltar pra base: o que você sente, o que você precisa, o que você espera. E aprender a comunicar isso com clareza, sem medo de parecer frágil. Sua sensibilidade não é uma fraqueza. Ela é a ponte pra tudo que você tem de mais verdadeiro, com a Malu, com você mesma, com o que é de fato real no seu relacionamento
Giovanna: Às vezes eu só queria que tudo fosse mais simples.
Dra. Helena: Eu sei. E talvez, com o tempo, e algumas pequenas escolhas, você consiga criar essa leveza.
Eu respirei fundo sentindo um alivio por poder só falar tudo pra alguém
Dra. Helena: Que tal encerrarmos por aqui hoje?
Giovanna: Sim… foi bom falar tudo isso.
Dra. Helena: Fico feliz. Semana que vem eu entro de férias, mas vou te mandar os dias certinhos. Se você sentir necessidade, posso indicar outra profissional nesse período. Tudo bem?
Giovanna: Tudo bem. Obrigada por hoje, de verdade.
Dra. Helena: Cuida de você. Um passo de cada vez.
Giovanna: Vou tentar.
Dra. Helena: Tenha um bom final de semana. Me escreve se precisar.
Giovanna: Combinado, Dra. Até a próxima.
Dra. Helena: Até.
Ela sorriu e desligou a ligação, eu respirei fundo e aliviada, eu amo terapia.